segunda-feira, janeiro 28, 2008

Eu me despedi, vou sempre me despedir de você a cada domingo e voltar.
Estou treinado a me separar para retornar mais forte.
Não tenho mais vergonha de recuar ou pedir à frente.
Minha vergonha não tem mais orgulho.
Quando não a vejo, eu a pressinto.
Quando não a escrevo, eu a leio em sinais e caligrafias estranhas pelos postes e toalhas de mesa. Tudo faz sentido; pichações, cartazes, canhotos; tudo é uma correspondência a violar e não me permite descansar.
Meus olhos são seus cabelos. Solto seus cabelos em minha íris.
Sou fraco, pode concluir que sou covarde.
Vou voltar.
Minha insônia não muda a claridade. Confessa que não está pronta. Não fique pronta.
Tampouco estou preparado. Vamos assim mesmo. Meu corpo não tem mais espaço para se regenerar. Não posso salvar minha carne retirando a própria carne.
Preciso da sua para me cobrir. Dói onde não fui beijado.
Não consigo arrancá-la do que sou.
Tentei, tento, tentarei, como se pudesse reinar com as palavras.
Duvide de minha alegria. Duvide de minha indiferença. Estou rindo com o vidro na boca. Faço o vidro virar dente. O que mastigo se acostuma. Mas não é o que sinto.
Há namorados tristes em dias de sol, namorados alegres em dias de chuva.
O que sinto nem falo. Não me cabe encerrar a vida de ninguém.
A minha sempre está começando ao seu lado.
Termino para não me repetir. Não consigo definir: “aquele foi o último abraço”, “aquele foi o último beijo” e conservar e sublimar para me lembrar do fim.
Eu guardo todos os abraços e beijos pensando que foram os últimos.
Desembrulho minhas roupas para descobrir seu cheiro.
Refaço o ritual da merenda da escola, o fino guardanapo que envolvia um pedaço de bolo ou um doce.
Meu cuidado para não ferir a fome. Eu me abandono, me troquei várias vezes, mas não me despeço.
Seu amor me estragou por inteiro.
Não amarei menos do que recebi de você.
Seu amor tornou impossível qualquer outra história de amor.
Seu amor é um estelionato, nenhum homem deveria aceitá-lo porque não terá tempo de quitar. Seu amor é uma generosidade injusta.
Uma extorsão.
Uma maldição.
Porque ele me cura do que ainda nem adoeci.
Sou covarde, pode concluir que sou fraco. Vou voltar.
Como o esquecimento dos cachorros, que são castigados e logo estão lambendo o rosto de novo. Como o esquecimento dos pássaros, que regressam aos mesmos telhados e antenas para secar os farelos.
Não sei me despedir de você. Já briguei, já fiz as malas, já a ameacei com chantagens, já prometi que não seria mais feliz. Já apanhei as chaves, já devolvi as chaves, já avisei aos amigos.
Já, Já, Já. Não sou mais o mesmo. Nunca serei mais o mesmo.
Só queria encontrar alguém mais louco do que eu para voltar à normalidade.
[Fabrício Carpinejar]

1 comentário:

Alice Matos disse...

Passo com alguma pressa para deixar um convite... Passa quando puderes pelo Detalhes, colhe um selo de amizade sincera e guarda-o onde preferires...

Passarei mais tarde para ler e comentar como mereces...

Beijo...