terça-feira, maio 22, 2007

O Impulso
Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever?

Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase sempre que imediatamente.

O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los.

Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse. Quero melhorar e não sei como.

Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito.

E mais, nem sempre meus impulsos são de boa origem. Vêm, por exemplo, da cólera. Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são cólera sagrada. Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma. Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime. (muitas vezes)

Que farei então? Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura ainda. Ou nunca serei.

Clarice Lispector –Aprendendo a viver

2 comentários:

Anónimo disse...

Clarice Lispector é o máximo!! Especialmente esse trecho...Me sinto assim!

João Filipe Ferreira disse...

adorei a sua visita, o seu carinho e adorei te ler aqui.vou voltar sempre:)
sorria sempre e ande bem e feliz:)

obrigado pela simpatia..como sabe bem receber carinho de pessoas tão fantásticas:)
obrigadoooo:)